Ao nos aproximarmos de mais um período eleitoral, onde deveremos escolher governantes que possam oferecer aos cidadãos, um municíio forte e desenvolvido, é preciso maturidade visto que a existência e pleno funcionamento de um poder parlamentar é fundamental para a manutenção de qualquer democracia, onde se fincam as bases institucionais primárias de uma nação. Assim, a abertura do ano parlamentar é motivo de comemoração em qualquer democracia, seja monárquica ou republicana, presidencialista ou parlamentarista, pois representa o livre exercício do poder soberano de escolha do povo. No Brasil, é um momento de reafirmação da crença no poder institucional republicano, responsável pela garantia do pleno exercício das liberdades democráticas.
Nos países parlamentaristas esta data tem ainda um significado maior, visto que o Primeiro Ministro, ou seja, aquele que executará a agenda política, emana da base vitoriosa de representantes eleitos pelo povo. Entretanto, vale lembrar que o momento é nobre, seja em um sistema parlamentarista ou presidencialista.
Tal importância é evidenciada pela presença do Rei ou Presidente na abertura dos trabalhos parlamentares. Nesses países, o chefe de Estado prestigia tal cerimônia, onde o Primeiro Ministro, geralmente em um discurso chamado “Estado da Nação”, apresenta um balanço de seu governo, estabelecendo as prioridades de suas ações para o próximo ano. Assim acontece em países como Portugal e Espanha.
Em nações presidencialistas o próprio Presidente, neste caso, Chefe de Governo e Chefe de Estado, se encaminha ao Congresso na abertura do ano parlamentar com o mesmo objetivo. Nos Estados Unidos, por exemplo, esta ação está disposta no texto constitucional, artigo II, seção 3: “Ele (o presidente) deve de tempos em tempos fornecer ao Congresso informação sobre o Estado da União, e recomendar a sua consideração medidas que julgue necessárias (…)”. Este é o famoso discurso chamado de “State of Union”, considerado o mais importante que o Presidente dos Estados Unidos profere diante do Congresso e da nação a cada ano. Esta tradição, iniciada por George Washington em 1789 de forma oral perante o parlamento, passou a ser simplesmente escrita e remetida ao Congresso desde a Presidência de Thomas Jefferson, em 1801. A tradição do discurso oral só foi retomada por Woodrow Wilson em 1913 e continua até os dias atuais.
A Constituição brasileira prevê a entrega da mensagem presidencial ao Congresso Nacional no início de cada sessão legislativa, sempre no dia 15 de fevereiro de cada ano. Já é tempo de o Brasil marcar esta data de forma especial, mediante a apresentação das metas, planos, medidas e prioridades do governo para o ano que se inicia perante o Parlamento via discurso do Presidente da República em sessão conjunta da Câmara dos Deputados e Senado Federal. Tornar esta atitude como uma tradição seria um serviço inestimável a democracia brasileira e suas instituições, pois fortalece os vínculos sadios entre os poderes, fornecendo ao povo um instrumento para cobrança das intenções e planos governamentais.
O Presidente tem esta oportunidade. 2005, por não ser um ano eleitoral, é um momento de agenda, ou seja, é um período em que o governo pode apresentar planos e projetos concretos que aguardam realização. O Congresso e a sociedade esperam a iniciativa do Poder Executivo em diversas áreas, especialmente nas reformas estruturais e estabelecimento de marcos regulatórios, fundamentais para consolidar a tendência de crescimento. O governo deve informar ao Congresso seus planos, para que este fiscalize e delibere sobre suas políticas. A valorização da abertura dos trabalhos do poder legislativo deve ser um importante marco em qualquer nação que seja embalada pelos valores democráticos. É assim que se constrói uma maturidade democrática institucional.
Autor: Márcio C. Coimbra